Estamos estão habituados a receber informação terrível nas nossas caixas de email, ouvimos tanta coisa absurda – alguma verdadeira e alguma falsa, que de alguma forma acabamos por nos tornar insensíveis ao que nos passa pelos olhos e por vezes perdemos a hipótese de fazermos realmente alguma diferença.
O apelo:
Existe uma situação aberrante e desumana em El Salvador (uma de muitas no mundo, já sabemos, mas vamos lá), em que mulheres que sofrem abortos espontâneos são condenadas à cadeia (penas vão até aos 50 anos). Existe uma petição para pressionar o governo elsalvadorenho para alterar esta injustiça e isto não está a recolher visibilidade nem apoio de maior.
A causa parece-vos meritória? Têm ideias de como podemos pôr isto a funcionar?
Atualmente tenho estado a falar com pessoas individualmente e a pedir que assinem e que falem da petição a pelo menos mais um amigo.
1) acham que podem assinar a petição?
2) acham que podem falar disto a um (ou vários) amigos?
3) têm outras ideias?
Obrigada!
fonte: Amnesty International
Endereço da petição:
A história e as suposições:
Em setembro deste ano, o meu colega de gabinete João Paulo Pedroso partilhou comigo que em El Salvador as leis do aborto eram tão restritas que até mulheres que sofriam abortos espontâneos podiam ser condenadas a penas de prisão até 50 anos e que portanto ia fazer uma petição online para que isso mudasse.
Admito que a minha reação inicial foi de incredulidade, e apesar de ter uma admiração e um respeito profundo pelo JPP fui procurar notícias que confirmassem a barbárie do que ele me estava a dizer.
Encontrei vários links (ver o final do post) e decidi ajudá-lo a divulgar a petição, traduzindo-a para inglês e divulgando-a nas minhas redes e nos meus círculos.
Na data em que vos estou a escrever este post, a petição tem 36 signatários. Apenas.
Tenho várias teorias para a razão para a qual isto acontece:
- as pessoas recebem tantas coisas e tantas petições que nem sempre são verdadeiras, que preferem não agir a agir erradamente
- As pessoas recebem tantas coisas e tantas “manifestações de horror” em todo o mundo que estão dessensibilizadas de alguma forma
- As pessoas acham que não têm poder para fazer a diferença
1. Será possível que em El Salvador as mulheres que perdem os bebés não só tenham de lidar com o luto de perderem o/a filho/a mas também sejam punidas pelo sistema legal?
Pois, diz que sim, como é possível ver pela quantidade de referencias à notícia no final deste post (curiosamente não encontro online notícias de fontes portuguesas; será que os nossos media não consideram isto relevante?).
A legislação “anti-aborto” é tão brutal que recentemente uma mulher, que se chamou de “Beatriz”, com uma doença auto-imune e um feto medicamente inviável por ser anencéfalo não foi autorizada a fazer um aborto nem para salvar a sua vida.
As penas de prisão são deste tipo:
– Glenda Xiomara Cruz (condenada em 2013 a 10 anos de prisão);
– Maria Teresa Rivera (condenada em 2013 a 40 anos de prisão);
– Cristina Quintanilla (condenada em 2005 a 30 anos de prisão).
2. As pessoas recebem tantas coisas e tantas “manifestações de horror” em todo o mundo que estão dessensibilizadas de alguma forma
A facilidade de chegar a toda a gente em todo o mundo faz com que efetivamente recebamos muitos apelos nos mails e media sociais.
Infelizmente, questões associadas aos direitos das mulheres são muitas vezes pouco consensuais; como se houvesse ainda algum receio de as pessoas se identificarem como feministas e portanto poderem ser alvo de crítica ou estarem a melindrar alguém.
Sinceramente, não percebo qual é a dúvida aqui. Há dúvidas que perder um filho, mesmo durante a gestação é uma experiência dolorosa? Em Portugal há até uma instituição para dar apoio na perda gestacional
http://projectoartemis.blogs.sapo.pt/
Faz algum sentido ter de passar por isso e ainda ir para a cadeia por umas décadas como consequência?
Maria Teresa Rivera foi condenada a 40 anos de prisão pelo crime de aborto, apesar de o seu aborto ter sido espontâneo
3. As pessoas acham que não têm poder para fazer a diferença
Francamente, tenho discutido isto com algumas pessoas. Parece que os Portugueses, fruto talvez das políticas abusivas de que temos sido alvo, parecem estar numa situação de algum “desânimo aprendido”, como se nada do que pudéssemos fazer como indivíduos pudesse afetar o todo.
Não é verdade. Ainda recentemente a Austrália revogou o visto a um fulano que dava seminários de como manipular mulheres usando violência física e psicológica por causa de uma petição que teve origem num artigo.
Uma multidão faz-se de muitos *indivíduos*.
Mas ainda que não possamos individualmente fazer a diferença, não ficamos melhores com a nossa consciência de saber que fizemos pelo menos um bocadinho para ajudar?…
O endereço da petição:
Notícias e posts sobre a legislação de abortos espontâneos em El Salvador
http://www.bbc.com/news/magazine-24532694
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131021_aborto_el_salvador_an.shtml
http://www.amnesty.org/en/news/countries-urge-el-salvador-change-repressive-abortion-laws-2014-10-28
https://news.vice.com/article/el-salvador-is-imprisoning-women-who-miscarry
http://www.conjur.com.br/2013-out-21/aborto-espontaneo-mulheres-sao-condenadas-homicidio-el-salvador
Notícias sobre o caso da “Beatriz”
http://www.elmundo.es/america/2013/05/30/noticias/1369894489.html
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=3248172