Nunca sabemos o que acontece às sementes que deitamos à terra.
Quando a minha mãe entrou para a reforma, começou um negócio no facebook com os bordados para bebé que tanto gostava de fazer.

Todos apoiamos este projeto bonito e eu comecei, passado uns tempos a fazer uns passarinhos de origami para ela colocar nos embrulhos mimosos que envia com os seus trabalhos para @s clientes.

Há uns anos atrás fui passar um fim de semana às ilhas Cies com uns amigos e a minha irmã e levei o papel de origami para ir fazendo passarinhos nos momentos de repouso e evitar mexer tanto no telemóvel. Quando esperavamos o ferry de volta, sentados numa esplanada, os meus companheiros de viagem pediram-me que os ensinasse a fazer estes passarinhos.
Passamos duas horas super divertidas, fizemos alguns passarinhos e o tempo até chegar o ferry voou.

Por si só isto teria sido suficiente, mas um destes companheiros de viagem partiria uns tempos mais tarde para uma missão humanitária no Iraque. Ele gostou tanto de fazer os tsurus de papel que continuou a praticar e a aprender mais figuras. Deve ter feito centenas nos tempos em que esteve longe e deixou quase todos a enfeitar a ala pediátrica do hospital onde trabalhou nesse tempo.
Sinto um tipo especial de felicidade e comoção quando penso nesta história.
Para mim o Ensino é isto. É darmos o que temos de melhor, sem expectativas mas com empenho e deixarmos quem recebe o que oferecemos fazer o que entender com essa dádiva.
Isto significa duas coisas.
A primeira é que o processo de ensino-aprendizagem é importante. É importante a forma como as pessoas passam o tempo em que estão a aprender, que isso seja uma experiência positiva e que reforce a importância e o valor incondicional de cada pessoa. É importante que o processo estimule as pessoas para continuarem a aprender e se aventurarem a fazer perguntas e arriscar novas experiências. É bom não esquecer nunca que processo de ensino-aprendizagem é fruto em grande parte da relação que se estabelece entre quem aprende e quem ensina e que isso transcende “a matéria” que por si só está muito provavelmente disponível online.
A segunda é que o conteúdo depende mais do estudante que do professor. E isto não é imediatamente intuitivo porque afinal de contas é o professor que escolhe o programa e desenha o processo de avaliação. Mas não importa, porque aquilo que realmente se aprende é o que se leva para lá do momento em que se estuda, é aquilo que fazemos depois e a forma como transformamos o mundo com esses conhecimentos e competências. Isso depende menos da capacidade de o professor passar os conteúdos ou “matéria” e mais da maneira como as pessoas são motivadas a trabalhar por si e a trabalharem o que é transmitido. Também quer dizer que os professores não vêem a maior parte dos frutos que semeam, mas nunca devemos esquecer que eles existem e precisam de ser tão acarinhados quanto possível: nunca sabemos a forma como impactamos os outros e é importante ser o mais generoso possível com todos os que encontramos pelo caminho.

Em homenagem ao Miguel, este domingo, pelas 15h ensino quem quiser aprender a fazer um passarinho de origami por zoom. Só precisam de ter papel (e nem precisa de ser especial :))
Quem estiver interessado, pode inscrever-se aqui.
Obrigada Miguel por teres levado os tsurus da D. Aidinha contigo e fazeres o mundo um pouco melhor de mais esta maneira. E por me lembrares porque é que sou Professora.